Em geral, temos do ser humano uma ideia sobre a existência
de vários modelos. Por exemplo, temos os excêntricos, os génios, os talentosos,
os criativos, os esquisitos, os loucos, os normais. Alto!!! Vou parar aqui, nos
NORMAIS.
Todos aprendemos a formar uma ideia do que é um ser humano
"normal" (o que eu chamo "modelo standard") e depois temos
os outros mais ou menos normais ou totalmente anormais (apenas porque diferem
do que entendemos como "normais").
Todavia, o que é um ser humano normal? No capítulo da
anatomia já evoluimos bastante no conceito porque antigamente qualquer pessoa
com uma incapacidade (por exemplo, cegueira) era anormal. Eu ainda me recordo
dessas classificações populares.
Se entrarmos no campo dos comportamentos e das mentalidades
então a coisa torna-se muito estranha. Se dermos algum valor às conversas de
café temos um catálogo enorme de tipos. Em termos cognitivos temos desde logo
uma escala de vai do deficiente ao génio. Ou do mais estúpido ao mais esperto.
Há-os para todos os gostos. E nos manuais da psiquiatria, onde a ciência fala
mais alto, também.
Mas a psiquiatria tem ajudado na confusão. Ela, a
psiquiatria, sabe que qualquer sujeito normal (incluindo os próprios
psiquiatras) apresenta algum défice ou transtorno, alguns ligeiramente
encobertos por um comportamento normal, outros descaradamente visíveis. O
problema é discernir onde começa e acaba o "normal", o tal modelo
"standard".
As pessoas gostam de gente normal, que anda na linha e em
sintonia com a classificação que o senso comum adotou (e que vai revendo com os
tempos).
O problema é quando surgem estudos como o que a nossa amiga
Isilda colocou hoje nesta página, referindo uma notícia da imprensa e que diz
esta coisa: "comediantes têm traços de personalidade psicóticos" (ou
seja, são portadores de uma desorganização da representação da realidade). E
assim, nesta linha de raciocínio, os comediantes são "anormais".
Pois bem, de facto, a maioria das pessoas não é comediante.
Logo, considerando-se a maioria representada por "gente normal" eles
são diferentes. Tal como Cristiano Ronaldo que os fãs já chamam de
"génio" da bola (e então, temos aqui outro anormal pois a maioria nem
sequer joga futebol).
Convinha que a ciência fizesse uma revisão urgente do que
considera normal - se tal for possível - pois anda por aí a circular muita
contra-informação e aldrabice, o que leva a mais preconceitos dos quais
custa imenso livrar-nos.
Eu creio que um dia, quando começar a manipulação genética
intensiva nos humanos (já faltou mais tempo), tudo isso vai deixar de ser
problema porque cada bebé vai trazer um "Guia de Instruções", chapa
de matrícula, chips implantados no corpo, etc. E aí, sim, saberemos quem são os
normais. Porque eu, por exemplo, ainda não sei bem o que é um ser humano
normal. Talvez porque eu seja um anormal qualquer!