Chama-se "túnel" ao fenómeno de adesão incondicional a uma causa de tal forma que passamos a fazer parte de um mundo fechado e por vezes isolado com as suas regras, princípios, normas e obrigações e com as quais nos identificamos. Quando entramos num "túnel" viramos as costas à nossa vida anterior e vamos parar a um outro do qual é difícil sair sem danos (físicos e psicológicos).
A entrada no "túnel" obriga-nos a despir o nosso
ego e a até perder um pouco da nossa identidade. Passamos a ter um número, uma
alcunha ou qualquer outra identificação e a fazer parte de um grupo, uma seita,
uma elite ou algo parecido. Entramos numa missão e tornamo-nos numa simples
célula de um tecido maior onde as leis são muito próprias e inquestionáveis
para manter a coesão do "grupo".
Exemplos de "universos" humanos onde se pode
entrar condicionado pelo fenómeno do "túnel":
- gangues organizados;
- claques desportivas organizadas;
- seitas religiosas (exemplo: Templo do Povo, já extinto, do
reverendo Jim Jones);
- comandos terroristas (exemplos: Al-Qaeda, Tigres Tamil do
Sri Lanka, Estado Islâmico, etc.;
- kamikazes (pilotos suicidas japoneses que se atiravam com
os seus aviões contra os navios de guerra norte-americanos).
- etc.
Mas também...
- movimentos políticos cerrados;
- partidos políticos tendencialmente não democráticos;
- grupos para-militares;
- forças armadas;
- forças policiais;
- etc.
A característica central do efeito de "túnel" é
que ele separa os seus membros do mundo "exterior", libertando-os das
amarras sociais em que estavam inseridos (familiares, amigos, etc.) e
colocando-os numa posição de abnegação e subserviência aos ideais do grupo.
Entram em cena os rituais, hinos, cânticos, bandeiras e outros símbolos,
obrigações e muito especialmente uma dedicação leal, indiscutível e insuspeita
à causa. O transe hipnótico está muitas vezes presente.
As "deserções" são muitas vezes punidas, nos casos
de grupos extremistas, com a própria morte.
O papel da psicologia de massas é muito importante nestas
organizações. Técnicas refinadas de persuasão, cativantes, com promessas da
mais diversa natureza (no caso dos "kamikazes" japoneses era
"fazer parte de uma elite de heróis" militares; no caso do Templo do
Povo, que levou ao suicídio e também matança de centenas de membros, era a
convicção de que se estaria a fazer algo de "extraordinário pela
Humanidade" e a caminho da "Terra Prometida").
Ao longo da história humana sempre existiu este efeito de
"túnel" porque desde cedo se formaram organizações em torno de causas
as mais diversas. Elas continuam a proliferar, por vezes de forma secreta. O
recrutamento faz-se hoje de forma mais discreta e a internet é, por exemplo, um
meio de captação. Muitos jovens aderem a "grupos" sem saberem que
aquilo que buscam vai empurrá-los para um "túnel" que os engolirá
como um "buraco negro".
Se há pessoas que sabem perfeitamente a que grupo ou causa
estão a aderir, muitas outras, à procura de um abrigo para as suas carências e
o seu isolamento social, acabam por ser apanhadas na rede como peixe indefeso.
Entrarão no "túnel" e lá ficarão por tempo indeterminado. Uns
sentir-se-ão felizes e integrados na disciplina e no espírito de missão a que
aderiram. Outros talvez descubram, tarde demais, que o "túnel" é
escorregadio e não permite voltar atrás.
Nota: não confundir "túnel" com "grupo".
O "efeito de túnel" é o nome do processo psicológico e
sociopsicológico de entrada num grupo, geralmente hermético.