SOFREMOS, por vezes, muito mais do que os outros. Porque
os outros, na sua esmagadora maioria, estão integrados nos velhos sistemas e
crenças, e pouco mais vislumbram do que uma parte daquilo que está a mudar à
sua volta. Tendem a adaptar-se por força das circunstâncias às novas realidades
mas com muita pouca convicção. E, por isso, muitos deles protestam, reclamam,
dizem mal para, no final, manterem-se protegidos pelo seu próprio
conservadorismo.
Nós, os inconformistas, vivemos geralmente entre dois
mundos: o velho e o novo. Muito do que somos derivam de estruturas antigas
formatadas pela sociedade de onde viemos. Mas não se pode pegar na mochila,
dizer adeus ao passado (e às pessoas) e embarcar rumo ao novo mundo. Há quem o
faça mas com alguma imprudência (e com custos que podem ser muito elevados).
Os adultos mais jovens, aqueles que nasceram já depois de
1900 e que estão agora na universidade ou a procurar o primeiro emprego, vivem
do outro lado da fronteira porque o que se lhes deparou foi já um mundo muito
diferente daquele que os seus pais viveram quando tinham a sua idade. Só não
serão inconformistas e conspiradores sociais se tiveram uma educação muito
conservadora.
AS GERAÇÕES anteriores debatem-se com a mudança, que nem
sempre compreendem. Tentam manter os alicerces antigos e tudo aquilo que lhes
dava um sentimento de segurança: os velhos empregos para toda a vida, os
hábitos, os costumes, as tradições (muitas delas mantidas apesar de obsoletas e
adulteradas) e a esperança de que tudo volte atrás, a um mundo mais
equilibrado, sem grande sobressaltos, menos assustador e incerto.
Agora somos forçados a mudar ou, no mínimo, a adaptar-nos
aceitando a nova e permanente revolução social (os empregos de curta duração -
não mais de 7 anos - as empresas que abrem e fecham em menos de 5 anos, os
novos negócios baseados na internet, o trabalho por conta própria, as famílias
separadas - por vezes por milhares de quilómetros - a diversidade e a
quantidade de informação, as surpresas impensáveis e acima de tudo muita
fantasia, enganos e ilusões (famosos que de repente deixam de o ser, anónimos
que de um dia para o outro atingem a fama, políticos desorientados porque não
conseguem interpretar o novo mundo, gente semi-perdida sem saber que rumo tomar
e por aí adiante).
O MUNDO, hoje, trabalha 24 horas por dia. Enquanto
dormimos, os nossos computadores estão a receber emails e as notícias
proliferem a cada instante. Acordamos de manhã, abrimos o jornal e deparamo-nos
sempre com surpresas e novidades. Nunca sabemos o que nos poderá surpreender
amanhã. Até o passado parece que vai mudando, à medida que é reinterpretado à
luz de novos dados até agora ignorados (ainda recentemente um estudo desfaz a
história das nossas origens; parece que, afinal, só houve uma espécie hominídea
de quem descendemos e não mais espécies anteriores).
Somos forçados a reinventar-nos mais rapidamente do que
alguma vez aconteceu na história da humanidade. Quem não for capaz disso ficará
para trás e se estiver ainda em idade produtiva (ela própria avançou uns 20
anos quando comparada com os anos 60 ou 70 do século passado) isso poderá ser
desastroso.
Para nos reinventarmos temos de compreender o mundo novo.
Isso implica, por vezes, um grande esforço de adaptação, aprendizagem e até
sofrimento. Mas não há alternativa.
VIVEMOS num mundo de coisas a mais. É a era do mais. Mais
acontecimentos, mais notícias, mais diversidade, mais medos, mais incertezas.
Mas também mais oportunidades, mais espaço para arriscar. No fim, como escreveu
Andy Growe, parece que apenas "os paranóicos sobrevivem" pois estão
por tudo, embora cada vez mais esvaziados como humanos. Tornaram-se máquinas de
consumo, alienados, predestinados a ficarem "zombies" (mas sem o
saberem pois perderão a consciência dessa mudança interior quando ela ocorrer).
Será um mundo melhor ou pior do que os anteriores?
Provavelmente, melhor mas mais confuso por excesso de tudo (do que é bom e do
que é mau).
Prepare-se para o "choque do futuro" (que foi
anunciado nos anos 70 por Alvin Toffler). A "Terceira Vaga" está aí,
desde então. Mas já não é apenas uma onda de mudança mas um autêntico
"tsunami" que vai varrer tudo.