Ao longo da vida todas as pessoas mudam. Mudam elas e muda o mundo. Viver é, com efeito, um exercício de transformação contínua.
O mais importante, porém, não é a mudança em si mesmo (isso
é apenas um processo) mas aquilo que realmente muda.
Estudei neuropsicologia e outras ciências nos
últimos 35 anos tendo exercido trabalho de aconselhamento nos últimos 15 após o
meu doutoramento. Tudo o que aconteceu nesse período me conduziu até aqui e me
proporcionou inúmeras descobertas (mais descobertas do que saberes), incluindo
um melhor conhecimento de mim mesmo.
Desde há uns anos, porém, que a pouco e pouco fui sentindo a
necessidade de focalizar a minha atenção nos grandes temas da vida para neles
tentar encontrar uma explicação racional e honesta sobre a saúde, o bem-estar e
o desenvolvimento da humanidade, a partir da qual fosse capaz de ajudar os
outros a enfrentar a aventura de viver num mundo cada vez mais incerto e
difícil.
Adoro biologia evolutiva - a minha mais recente área de eleição - mas já há
muito tempo que eu sei que as pessoas são muito mais do que os seus cérebros e
a sua psique e que são também muito mais do que os seus genes e todas as suas
células devidamente agrupadas em órgãos e funções interativas.
Daí que eu tenha percebido que teria de ir mais longe e para
além da neurociência para compreender o ser humano e a sociedade. Tinha de me
libertar de saberes tidos como dogmas inquestionáveis que me mantinham num
círculo vicioso e não virtuoso. A ciência, dessa forma, é redutora e
reducionista. É útil mas pode aprisionar-nos na especialização disciplinar.
Perceberia de cérebros (e sua atividade) mas pouco de
pessoas. E quem pense que estudando o cérebro vai algum dia compreender a
totalidade do ser humano não se ilude. Irá compreender muitos processos
neurológicos que explicarão sentimentos, decisões e comportamentos mas
escapar-lhe-á o essencial: o ser humano para além do cérebro.
Focalizando-nos no cérebro - e na sua evolução - estamos apenas a compreender uma
parte ínfima do homem. É útil e traz inúmeros benefícios, sobretudo na
medicina. Mas isso, para mim, não chega. Quero ir mais longe. Quero romper
fronteiras e desbravar novos caminhos em busca do ser humano e do seu futuro em
sociedade. Quero chegar a um lugar "muito além do nosso Eu" (título
de um livro do neurocientista Miguel Nicolelis).
Entrei pois em mais uma etapa a qual tem vindo a evoluir nos
últimos tempos. Foram tempos preenchidos por interrogações, dúvidas mas também
de busca e até de contemplação.
Tudo começou quando um pensamento antes difuso se tornou
claro: "quero parar de me sentir encurralado" nos meus saberes
académicos (sem desprezar, abandonar ou destruir todas as minhas aprendizagens
tanto as científicas como as proporcionadas pela "escola da vida").
Quero dar um passo mais no sentido da compreensão de tudo
pois, como escreveu Fritjof Capra, físico teórico e escritor que desenvolve
trabalho na promoção da educação ecológica, somos parte de um todo sistémico em
que tudo está integrado e nada vive sem estar integrado nesse todo que alguns
autores chamam de Kosmos (não com C mas com K, do antigo conceito grego que
inclui não só a matéria, mas também a vida na sua totalidade integrada e
integradora).
Parto pois para outros projetos, para outros caminhos, não
em busca de um Santo Graal qualquer mas do significado da vida, para poder
ajudar mais e melhor as pessoas na sua procura da felicidade, do bem-estar e da
sua fusão com o mundo, o universo e o kosmos.
Manter-me-ei um inconformista procurando retirar a cegueira
de que enferma a humanidade, ajudar a derrubar sistemas manipuladores da mente,
a ampliar o pensamento criativo das pessoas e enveredar pela inteligência
positiva em nome da Paz e de um mundo melhor, mais livre (sobretudo das prisões
mentais e sociais), mais saudável e mais digno da nossa presença (seja na Terra
seja em Marte ou em qualquer outro sistema solar).
Acredito que o homem tem um longo e fantástico caminho a
percorrer e muitas descobertas a fazer. Quero fazer parte dessa viagem de aventura intelectual.
A escrita, as palestras e a vida académica são os meus principais
meios de ligação e sobrevivência. Assumo-me, perante vós, como um inconformista
e ativista social, independente, sem compromissos com ideologias políticas,
crenças religiosas, ciências redutoras, modelos de educação castradores e
outras formas de inclusão e de dependência.
Quero e tudo farei para ser cada vez mais um descobridor e um pensador independente, mesmo tendo consciência que a tarefa não é fácil pois nenhum de nós, pela sua própria natureza social e biológica, consegue garantir tamanha autonomia intelectual.
Quero e tudo farei para ser cada vez mais um descobridor e um pensador independente, mesmo tendo consciência que a tarefa não é fácil pois nenhum de nós, pela sua própria natureza social e biológica, consegue garantir tamanha autonomia intelectual.
Trata-se pois de uma missão para a vida, de uma reforço da
minha personalidade e de um esforço para me sentir mais útil à humanidade.
Nelson S Lima