Aprendi há muitos anos que podem acontecer coisas
extraordinárias na vida quando decidimos sair da rotina e repensar o caminho
percorrido. Sair da rotina não significa necessariamente que tenhamos de mudar
de emprego, mudar de residência ou deixar para trás família e amigos. Todos
temos consciência que estamos obrigados a compromissos na vida que não podemos
simplesmente ignorar e dizer adeus. Por outro lado, também temos hábitos e
rotinas que são saudáveis.
O problema está frequentemente nos padrões mentais que
adquirimos e que nos levam a ter rotinas de pensamento. As crenças, por
exemplo, encaixam-se nessa categoria. Conheço muitas pessoas que ficam
incomodadas quando alguém lhes questiona uma crença. As crenças (sejam do que
for) ficam vincadas no nosso espírito como verdades absolutas e ninguém aceita
interrogar-se sobre elas a não ser quando fica diante de uma situação limite! É
por estes e outros acontecimentos similares que o pensamento humano evolui
lentamente. Bem sabia Einstein do que dizia quando desabafou que se o homem se
libertasse de ideias feitas e de conformismos seria um animal mais evoluído.
Veja-se como hoje atravessamos uma crise enorme no mundo
devido a não estarmos preparados para os novos desafios e mudanças profundas.
Buscamos soluções com ideias velhas que não se adaptam aos novos problemas.
Isso deve-se ao facto de estarmos prisioneiros de rotinas e de incapacidades
como a de não sabermos repensar o caminho percorrido.
Não admitimos que o passado pode merecer uma nova leitura, uma
nova interpretação. Agarramo-nos a ideias que foram excelentes em certos
momentos mas enganamo-nos frequentemente quando acreditamos que essas mesmas
ideias são sempre válidas. Temos de olhar para trás e limpar os nossos armários
de recordações. O mesmo é dizer, reciclarmo-nos e darmos lugar a novas
aprendizagens que rejuvenesçam o nosso espírito.
Olhar em frente não significa abandonar o passado mas
repensar o passado, incluindo, até, muito daquilo que aprendemos. É quase
garantido que ao fazermos isso vamos encontrar motivos para nos decidirmos por
uma mente mais aberta, flexível e criadora.
Uma vez, uma menina, excelente aluna, a quem a professora
perguntou o que era a "liberdade" respondeu que era o
"oceano". A professora zangou-se e chamou-a de burra. Todos os
colegas se riram na cara da menina que não voltou mais à escola com vergonha.
Sentiu-se humilhada e incompreendida. Quando lhe perguntei porque ela disse que
a liberdade era o oceano explicou-me que a ideia dela era que um oceano, por
ser tão largo e livre, era um bom exemplo de liberdade. E ela tinha razão. Mas
o seu espírito aberto não teve eco na mente fechada e formatada da professora
habituada a pensar a liberdade de acordo com uma definição convencional.
É esta também a grande diferença entre um espírito jovem e
um espírito velho. O primeiro é aberto, inconformista e flexível. O segundo é
fechado, conformista e rígido. Em ambos os casos estamos perante padrões de
pensamento distintos.
Também é verdade que o espírito jovem pode envelhecer por
força de uma sociedade que se fecha perante a mudança. Mas o espírito velho
fica pior. Fica obsoleto quando já apenas só consegue repetir-se
rotineiramente.
Afirme-se como um espírito jovem e não deixe envelhecer os
seus padrões mentais. O mundo não volta para trás e o que temos pela frente só
admite pessoas habilitadas a pensar com o que eu chamo de "ousadia
criativa". Quem não for capaz de se reciclar talvez só se possa queixar de
si mesmo. E não dos outros. Nem do mundo que ao mudar apenas cumpre o seu
desígnio.