Infelizmente, nada. Ou melhor, mudou o que mudaria mesmo sem
mudança de ano!
Ouvem-se as notícias ou lêem-se os jornais e sente-se que,
afinal, o que há de novo não tem nada a ver com o ano, a não ser leis, impostos
e novas regras ditadas pelos governantes. Talvez nas empresas se iniciem novos
projetos na prossecução de novos objetivos. Mas, saltemos para o nosso
quotidiano: está tudo na mesma (salvo raras exceções, certamente)!
E isso acontece todos os anos. Festejam-se os "anos
novos" como se acreditássemos que, por ser um novo ano, as coisas poderão
ser diferentes. Fazem-se então planos, traçam-se novas metas ("desta vez é
que vai ser"). E os anos passam e o que tem de mudar continua a mudar sem
precisar do calendário.
Hoje, dia 2, olhamos e o que vemos de realmente diferente
que tenha merecido tanta festa, tanto fogo de artifício pelo mundo fora?
Ok, bebés que nasceram à meia-noite de 31 de Dezembro para 1
de Janeiro e são notícia nos jornais. Mas, e as pessoas - tantas - que na mesma hora
morreram nos hospitais, em guerras ou até de fome e miséria nos países esquecidos?
Esses ficam nas lágrimas de quem os perde. Ninguém fala deles e até esquecemos
que muitas famílias necessitam é de mudar de vida e não mudar de ano (isso é
uma mera convenção ditada pela necessidade de organização do trabalho).
Que andamos nós a fazer com estas brincadeiras ingénuas de
festejar mudanças de ano como se isso mudasse o mundo? Engano nosso. O mundo
continua indiferente ao calendário. Nós é que somos umas crianças grandes que
adoram festas por tudo e por nada.
Acho sempre interessante o pormenor de ao meio-dia de 31 de
Dezembro os povos no distante Extremo-Oriente já estarem em 2014 e depois, hora
a hora, ir-se festejando de alto a baixo do planeta (conforme os meridianos) um
novo ano. Ou seja, foram 23 horas de festejos como se houvesse 23 novos 2014. E
cada povo foi festejando o seu quando, na verdade, nas "terras onde nascem
os dias", já era 2014. O mundo voltou ao normal: já estamos todos em 2014.
Somos assim mesmo. Vivemos encurralados em crendices, em
sistemas, em modelos, em padrões, em rotinas, em calendários, em agendas e tudo
o mais que só tem servido para tornar a vida em algo muito complexo. Na
verdade, somos prisioneiros do mundo que construímos. E, não obstante,
queixamo-nos dele a toda a hora.
E porquê? Porque as verdadeiras mudanças de que a humanidade
necessita não precisam de datas marcadas. Poderão ocorrer em qualquer data
porque não são elas que as determinam. Estamos à espera de quê? De 2015?