A atitude inconformista de "pegar ou largar", isto
é, de aceitar ou não aceitar os convites do "status quo" (mais
conhecido por "o sistema") não é fácil. Muita boa gente tropeça na
primeira dificuldade e desiste, deixando-se levar pela corrente e misturando-se
na multidão.
Muita gente que conheci, decididamente inconformista (estou
ciente de que o era mesmo) e disposta a mudar o "sistema" acabou por
se transformar em seus animadores e cultivadores. Ou seja, essas pessoas
trocaram o incerto e a aventura de viver pelo certo (certinho), a segurança
(psicológica) e o comodismo (conforto).
As razões para estes retrocessos podem ser muitas: um novo
emprego do tipo "yes, man" (sim, senhor) que exige obediência total e
pouco ou nenhum espaço para mentes criativas, casamento, pressão familiar,
pressão social, etc.
Ser inconformista meramente teórico (é muito bonito a pessoa
armar-se em irreverente, em opositor do sistema, e por aí adiante) é diferente
de ser um inconformista concreto, prático e participativo, corajoso o
suficiente para enfrentar as tentações do conforto prometido pela obediência ao
que o Poder e o Sistema podem garantir.
Na vida política encontrei muita gente dessa. Sabichões e opositores
fora das elites e das clientelas partidárias mas imediatamente adeptos e
defensores daquilo que antes contestavam porque simplesmente
"ganharam" com a troca. Trata-se de gente da direita à esquerda do
espectro partidário que hoje repugno pela falta de carácter e não tanto por
mudarem 180 graus.
Espreitemos a atividade mental dessas pessoas e
descobriremos onde está o seu ponto fraco: no medo! É o "cérebro do
lagarto" (como descreve o prof. Steh Godin) a atuar, ou seja, aquela área
muito antiga do cérebro que, para nos proteger, dispara os mecanismos de defesa
(o sistema límbico, o das emoções mais básicas).
Felizmente estamos sempre em mudança e esta produz novas
mentes dispostas a assumirem os lugares vagos.
Citando Joyce Morgan: “lindo é o sol que não tem medo de
morrer para nascer no outro dia".