Propósitosssssssss!!!!

Quando nos dizem que somos loucos há nisso uma certa verdade!

No bonita região de Dorset, no sul de Inglaterra, com algumas novas ideias na cabeça.

O facto de eu ser uma pessoa inconformista tem-me trazido extraordinárias experiências de vida mas também alguns dissabores por não conseguir pensar e agir como muitos "outros" gostariam que eu fizesse, ou seja, pensar "em conformidade com..."

Um dos passos mais arriscados que tomei na vida foi ter pedido a demissão de um cargo de direção numa grande empresa portuguesa (com duas fábricas em plena laboração na área agro-alimentar) em meados da década de 80, no passado século.

Devo confessar que, numa primeira fase, porque o risco era enorme, perdi. Perdi um excelente emprego de topo - o melhor que alcançara - com todas as regalias que faziam parte da função, nomeadamente automóvel para trabalho e uso privado, inúmeras viagens ao estrangeiro e outros benefícios monetários.

Na verdade eu já fizera o mesmo anteriormente. Mudei de emprego várias vezes por decisão própria mas sempre fui subindo na minha carreira. E tinha chegado ao topo na área da gestão estratégica - que era onde eu melhor me encaixava e mais competente me sentia.

A diferença é que, dessa vez, não mudei de emprego. Passei a desempregado, com todas as consequências imediatas que isso acarreta. 

COMO O INCONFORMISMO PODE VALER
Este tipo de mudanças na nossa vida não é para todos, confesso. Tendo então dois filhos (e com um divórcio por resolver) a coisa poderia ficar complicada. E ficou. 

Embora tivesse em vista uma fonte de rendimento através de trabalho como consultor independente foi difícil acertar o passo e em breve o dinheiro começou a escassear. Os gastos eram superiores aos ganhos, além da intermitência destes. Precavera-me para um ano de investimento mas os resultados estavam longe do que previra. A família, já habituada à minha forma de estar, em permanente transição, em busca de melhores oportunidades, era quem, obviamente mais me criticava.

Criei uma revista de pequenos negócios, com dicas práticas - única no país - e consegui fazer bastantes palestras e cursos em todo o país (Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Castelo Branco, etc.) incitando os gestores a iniciarem-se na "inovação em gestão" entre outras matérias. Cheguei a ser formador da então Associação de Mulheres Empresárias e da Associação Industrial do Porto de forma vinculativa. Todavia, tudo somado, não ganhava nem metade do ordenado que antes auferia como gestor por conta de outrem apesar de estar a ficar conhecido no meio comercial e industrial (recordo-me que cheguei a estar em Paris como professor convidado de marketing da então Escola de Comércio do Porto numa viagem de intercâmbio com idêntica escola em França).

Passaram-se alguns anos e comecei a destacar-me, finalmente, como consultor tendo tido clientes cada vez mais importantes. Cheguei a dirigir temporariamente uma fábrica de média dimensão da área alimentar com vista à recuperação do seu mercado. Introduzi novas embalagens, abri-lhes novos negócios e oportunidades e os resultados apontavam todos para o sucesso da empresa a brevíssimo prazo. Só que deparei-me com patrões que, já idosos, achavam que a empresa deveria ficar como estava do que aventurar-se para além da sua clientela tradicional (que estava, todavia, a fugir para a concorrência antes de eu atacar o problema). Embora os resultados fossem muito bons, não quiseram dar o passo seguinte e resolveram travar-me. Assim terminou o meu contrato com eles (aliás, era um bom contrato para ambos). Menos de um ano depois soube que a empresa decidira voltar ao modelo de gestão anterior (o modelo deles).

Este é um problema típico das pessoas conformistas, pouquíssimo empreendedoras, como eram aqueles meus clientes. Preferiram manter-se agarrados ao que sabiam, embora estivessem muito ultrapassados na administração do seu negócio. Tiveram medo de arriscar e optaram por se manterem na sua anterior "zona de conforto". Acabaram por perder a fábrica e reformaram-se.

Estávamos já em 1992, ano, em que nasceriam os meus dois filhos mais novos (gémeos), frutos de uma relação que nascera uns sete anos antes. Nesse mesmo ano atirei-me a uma viagem à então recente República Eslovaca onde tive uma outra ideia que iria mudar novamente a minha vida e me conduziria àquilo que hoje faço.

Tenho pensado muito no dia em que decidi sair do meu último emprego onde era diretor pois agora estaria a auferir de uma boa reforma e não tinha de trabalhar mais, caso me apetecesse. Só que eu creio que, se voltasse atrás, repetiria o meu pedido de demissão.

Ok, eu confesso que corrigiria alguma trajetória, mas seria coisa de pouca monta. É que, se não tivesse feito aquela drástica mudança, eu não teria voltado para a universidade aos 50 anos de idade e enveredado por uma área totalmente nova da qual, agora, não pretendo sair, mas onde já estou envolvido em novos projetos rumo a um futuro que me mantenha estimulado e sempre criativo.

Mas essa parte da história, porque também é cheia de muitas peripécias, fica para outra altura.

Nelson S Lima