Propósitosssssssss!!!!

Just Do It: a sociedade do engodo!


Os anos 80 e 90 ficaram marcados por vários acontecimentos de impacto mundial, nomeadamente o desmoronamento da União Soviética e o arranque das novas tecnologias de informação. Não obstante, talvez aquilo que influenciou mais pessoas (e a sociedade que ainda hoje vivemos) foi uma campanha publicitária da Nike sob o lema "just do it" e uma outra da sua concorrente Adidas baseada em "impossible is nothing".

Estas campanhas, propagadas maciçamente por todo o mundo, ajudaram à "cultura consumista" em que vivemos e àquela crença de que tudo é possível através do TER. Foi também a época em que começou a despontar um interminável número de "gurus" de auto-ajuda prometendo a felicidade e o sucesso com meia dúzia de ideias-chave que ainda proliferam em mentes mais susceptíveis.

O culto da celebridade, por exemplo, é responsável por milhares de programas de televisão em todo o mundo e milhares de revistas "cor-de-rosa" e do "jet set". Milhões de pessoas - muito especialmente os jovens - procuram avidamente o sucesso, a beleza e a glória, mesmo que estejam a ficar atordoados pela crise do sistema e pela falta de oportunidades de emprego (coisa bem diferente de "trabalho") que não compreendem.

A verdade é que a Nike, nesses loucos anos de consumismo desenfreado, agradece esse ponto fraco dos humanos que, não podendo ser famosos, imitam as celebridades nem que seja comprando apenas umas sapatilhas e imaginando que, com isso, estão a adquirir um "estilo de vida" diferente, integrando-se na "rede" (só a Nike facturou mais de 33 mil milhões de dólares nessa altura).

Como muito bem diz o psicólogo existencialista Carlo Strenger vivemos o "medo da insignificância" - o medo da nossa finitude, o medo de termos vivas anónimas, vazias e sem sentido, a ansiedade existencial que nos faz correr a comprar livros com receitas prontas de auto-ajuda ou a vestir roupas de marca, acreditando (até inconscientemente) que, com isso, faremos parte de uma elite qualquer.

Num mundo dominado por "rankings" de empresas, jornais, pessoas, lugares, etc. (os mais famosos, os mais bonitos, os mais comentados, os mais lidos, os mais vendidos, os mais ricos, etc., etc.) corremos o risco de construir ilusões sobre nós próprios e até de fazermos projectos de vida efémeros porque estão assentes em débeis convicções e "egos" fragilizados por uma assustadora falta de sentido crítico e de saberes básicos.

Felizmente, há um número crescente de pessoas que já perceberam o engodo em que o mundo moderno caiu e procuram ter uma existência mais autêntica e mais simples, com o mínimo das influências perniciosas de uma sociedade que continua alienada e cada vez mais neurótica.