Segundo o filósofo argentino Guido Mizrahi todos nós
convivemos com 7 diferentes idades. Não apenas a idade cronológica (que se rege
pelo calendário) nem tão pouco a idade mental (que se mede nos testes de
inteligência) mas outras idades.
Ora bem. O conceito de idade está normalmente relacionado
com o tempo e faz parte dos vários elementos que nos ajudam a identificar
pessoas, animais, acontecimentos, etc. Dizemos que fulano tem 40 anos de idade
e com essa informação em mente ficamos com um dado importante: o tempo que já
leva de vida (onde se inclui a experiência, as realizações, a maturidade
adquirida, etc, etc.).
A idade – porque se divide em períodos de tempo – é uma
medida de tempo. É quantitativa e não qualitativa. O tempo, para nós, existe
como um valor absoluto, não manipulável e, por conseguinte, a percepção que
temos dele é mecanicista.
A medição do tempo é um produto da inteligência humana e
resultou da necessidade das sociedades primitivas se organizarem num mundo que
se tornava cada vez mais complexo. Aos homens antigos, a memória dizia-lhes que
havia um tempo que se esfumava e se diluia no passado e um tempo futuro que se
aproximava. Idealizaram então o tempo como uma linha que corria do futuro para
o passado. E nasceram daí o calendário e o relógio. Medir o tempo tornou-se
obsessivo. Inventaram-se os milénios, os séculos, as décadas, os anos, os
meses, as semanas, os dias, as horas, os minutos, os segundos, os nanossegundos
(o nanossegundo é a bilionésima parte de um segundo durante a qual a luz viaja
30 cm)…
Nada mudou de muito significativo no Universo desde que o
Homem apareceu na Terra mas a medição do tempo e a entrada em cena do conceito
de idade mudaria a nossa percepção do mundo e da vida. Agora, mais do que
nunca, a idade mede-se em função de uma noção de tempo cada vez mais
matemática, o que nos torna cativos do absoluto.
É isto mesmo que nos assusta e incomoda. É que tudo nos
sugere que a idade avança. E quando avança arrasta outros acontecimentos, o
mais importante dos quais é a entropia que conduz à mudança e ao
envelhecimento. Aparentemente, a idade nunca recua e, assim, há idades em que o
que mais ambicionamos é ficar mais velhos e outras em que aquilo que mais
desejamos é ficar mais novos sem que, todavia, nada se altere. Ou seja, a idade
cronológica – da qual nada nem ninguém consegue fugir (nem para a frente nem
para trás) – constitui uma importante referência para a sociedade humana ao contrário
do que ocorre com os outros animais para quem a noção do tempo que passa não
existe ou não existe tão refinada como entre nós.
O filósofo Guido Mizrahi, porém, chama-nos à razão. Não
temos nada que nos sentir prisioneiros da idade cronológica pois a vida humana
manifesta-se e evolui através de outras extensões que estão para além do
próprio tempo. De certa forma está de acordo com um outro autor famoso – Deepak
Chopra – para quem a vida é muito mais do que contar os anos e envelhecer…
AS NOSSAS IDADES
A idade aparente.
Numa sociedade em que a imagem e a informação assumem uma
importância crucial as pessoas têm medo de parecer velhas. É um medo irracional
mas compreensível porque resulta do facto de termos construído uma sociedade
ávida de juventude, acção e novidade, obsessivamente consumista e devoradora de
imagens. Já não é apenas o envelhecer que assusta mas também o ficarmos fora de
moda (na aparência, no vestuário, no penteado, nas ideias, nas crenças, etc).
A idade psicológica.
O médico Deepak Chopra, citando um velhinho bem-humorado,
escreveu que “temos a idade que acreditamos ter”. Todos sabemos como os
pensamentos são poderosos. Eles estão por detrás da maioria dos nossos
comportamentos conscientes e atitudes. Uma mente saudável é uma mente por
natureza sempre jovem e resistente ao tempo que passa e às suas vicissitudes.
Uma vida com projectos e objectivos sensatos altera a percepção que poderíamos
ter do envelhecimento se apenas ficássemos passivamente à espera da morte. Por
isso mesmo, em muitas pessoas, a idade psicológica difere (para melhor ou para
pior) da idade cronológica.
A idade cronológica.
O famoso paleontologista (já falecido prematuramente)
Stephan Jay Gould alertou-nos para a “falsa medida do Homem” e as crenças em
torno dos instrumentos de avaliação da inteligência, do desenvolvimento
cognitivo, etc. Não sei porquê, ao escrever este comentário, ocorreu-me pensar
nisso. É que a idade cronológica, porque se baseia na noção de tempo mensurável
(calendarizado), conduz facilmente a preconceitos e ideias tortuosas. No
Ocidente moderno e industrializado ser idoso é ser velho e decrépito, ignorando-se
toda a sabedoria e maturidade adquiridas por uma vida de aprendizagens e
experiências. Os idosos limitam-se, na maioria dos casos, a sobreviverem
dia-a-dia encarando a morte como uma libertação. Mas em muitas sociedade
antigas do Oriente, com outras culturas e entendimento do mundo, ser-se velho é
ser-se dono do saber, da maturidade e da prudência. Ali ninguém tem medo de
envelhecer e o calendário tem apenas uma importância relativa.
A idade emocional.
A idade emocional está associada à maturidade. O
auto-conhecimento e a boa governação da emocionaliade conduzem a relações
interpessoais sadias e serenas, reduzem o stress (causa de doenças e
envelhecimento) e facilitam expansão da consciência que nos permite vivermos a
sensação de travar a “caminhada” do tempo.
A idade biológica.
Sob o ponto de vista físico-químico esta é a idade que
acompanha a entropia, as mudanças provocadas pelo tempo que passa e o
envelhecimento. Hoje em dia, com a melhoria dos cuidados de saúde e a
irradicação de muitas doenças que antigamente dizimavam populações inteiras, a
esperança de vida aumentou. Podemos lutar contra a entropia através da adopção
de estilos de vida harmoniosos e compatíveis com os nossos sonhos. A
alimentação, o descanso adequado (dormir as horas necessárias à recuperação) e
uma vida activa ajudam os nossos genes e as nossas células a manterem-se jovens
e flexíveis por mais tempo.
A idade espiritual.
Para além das energias do corpo existe certamente uma
energia subtil que percorre uma realidade que está protegida do envelhecimento
e dos factores negativos da entropia. É a energia espiritual que reside na
essência do nosso ser. Trata-se de um campo de não mudança (como escreveu
Chopra) que está presente na personalidade de cada um e que influencia os nossos
pensamentos, comportamentos, escolhas e decisões.
A idade social.
Sendo o homem um ser social, as relações entre os indivíduos
são vitais para a evolução, tanto a nível pessoal como colectivo. As pessoas
que sabem interagir com os outros e bsaeiam os seus comportamentos em valores,
normas e pensamentos (e ideologias) que defendem a solidariedade, a
fraternidade e o interesse social e colectivo sentem-se úteis e integradas e,
por isso mesmo, mais jovens e activas.